Publicado em: 06/09/2024 13:15:44
Diversas organizações e lideranças indígenas participaram do seminário de escuta para criação da nova universidade
A Universidade Federal de Rondônia (UNIR), campus de Porto Velho, sediou na quinta-feira (5) o Seminário regional de escuta para criação e implementação da Universidade Indígena - Rondônia e Acre. Este foi o 14ª de um total de 20 seminários que estão sendo realizados pelo Ministério da Educação (MEC) desde julho desse ano. O evento ocorreu no Auditório Paulo Freire, no Campus de Porto Velho, com transmissão ao vivo pelo canal da UNIR no Youtube (disponível aqui e aqui).
“Para nós, da Universidade Federal de Rondônia, é uma oportunidade e um privilégio fazer parte desse processo histórico de propositura da Universidade Indígena, que deve ser construída valorizando a diversidade étnica e cultural e com o protagonismo dos povos indígenas”, afirmou o pró-reitor da Procea, professor Daniel Delani.
O objetivo dos seminários é garantir a escuta dos povos indígenas, recebendo informações e análises de entidades indígenas e indigenistas, entidades públicas ou privadas e especialistas no tema para subsidiar a criação, implementação e organização da Universidade Indígena.
A etapa regional Rondônia e Acre contou com a presença de lideranças indígenas dos dois estados, de representantes do MEC, bem como com a participação de diversas instituições e organizações indígenas como Funai, Sesai, Sepi, Seduc-RO, Opiroma, Opiac, Cimi, FNEEI, MPI, APK, Sitoakore, Pupykary, entre outras.
Conforme informou a coordenadora geral de políticas educacionais indígenas da Secadi/MEC, Pierlangela Wapichana, ao final do seminário será elaborado um relatório com todos os pontos debatidos pelos participantes. Posteriormente, o documento será agregado aos demais, das outras regionais, para subsidiar a criação, implementação e organização da Universidade Indígena.
“É muito importante podermos contar com o apoio e a estrutura existente nas redes federais para debater a proposta, além de participar dessa rede multicampi que poderá ser criada para a Universidade Indígena. Nesse momento, nós buscamos reunir lideranças, mulheres e jovens das comunidades de Rondônia e Acre para escutar seus anseios para a educação indígena, a fim de que a escuta seja realmente qualificada e resulte em uma proposta pensada pelos povos indígenas de todo o Brasil”, comentou a coordenadora.
De acordo com o professo Tiago Iteor Surui, representante da Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas (Opiroma), a Universidade Indígena precisa ajudar a manter e fortalecer a cultura dos povos, além de ofertar profissionalização em diversas áreas: “é muito importante ter outros cursos como Medicina, Direito, Engenharia Florestal, Ambiental, Civil, primeiro porque o acesso [aos cursos] para nós é difícil e [segundo] o campus é muito longe da comunidade. Pode ser também uma forma de fortalecer nossa organização territorial”.
O professor Wasa Shanenawa, estudante de Licenciatura Intercultural na UFAC e professor na sua comunidade, parafraseando Ailton Krenak, afirma que “a Universidade começa na aldeia, nós temos nossa forma de ensinar e hoje lutamos contra um sistema em que muitas aldeias estão perdendo a sua cultura e os seus costumes. Através da educação escolar indígena, hoje, no Acre, a cultura tem se fortalecido bastante através de festivais, vivências e intercâmbio entre povos. Então, a Universidade Indígena vai somar em todas as nossas lutas e nossos direitos”.
Universidade Indígena - A criação de universidades indígenas e outras instituições de ensino superior (multicampi ou polos) é uma demanda antiga dos povos indígenas. Por meio delas, esses povos teriam garantia de gestão e de recursos para sua consulta e participação, em todas as etapas do processo de construção do projeto, com recursos humanos e financeiros adequados para seu funcionamento e sua manutenção, priorizando a atuação dos indígenas em seu quadro institucional.
O pedido foi apresentado nas Conferências Nacionais de Educação Escolar Indígena (I e II Coneei), realizadas em 2009 e 2018. Essas são as instâncias máximas de consulta aos representantes dos povos indígenas e de espaço para proposições de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade da Educação Escolar Indígena, em todas as esferas governamentais.