Data do Evento: 14/11/2023
Estudo indica desafios para a inclusão, acesso e permanência de estudantes indígenas na universidade
O e-book Diálogos Amazônicos: Contribuições para o Debate sobre Sustentabilidade e Inclusão (acesse aqui) será lançado em evento online nesta terça-feira (14), às 9h (horário de Brasília), no canal da Agência Fapesp (neste link). O livro, com acesso gratuito em português, espanhol e inglês, é um produto da Escola São Paulo de Ciência Avançada – Amazônia Sustentável e Inclusiva, realizada em 2022 com apoio da Fapesp, e reúne sugestões de jovens pesquisadores para enfrentar os desafios da região Amazônica, como o acesso, a inclusão e permanência de estudantes indígenas na universidade.
A professora Carolina de Albuquerque, docente do campus de Cacoal da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), no curso de Direito e na pós-graduação, é uma das autoras do livro. Ela espera que suas contribuições, juntamente com as dos demais pesquisadores, possam orientar o desenvolvimento e ampliação das políticas de ingresso e permanência dos alunos indígenas. “Fizemos uma revisão bibliográfica a fim de elencar as melhores alternativas. Para isso, entrevistamos alunos indígenas e incluímos as experiências comprovadamente efetivas nesse processo”, afirmou Carolina.
Durante o evento de lançamento, serão apresentadas palestras com os temas “Contextualização da SPSAS”, “A SPSAS Amazônia do ponto de vista dos convidados” e “A SPSAS Amazônia do ponto de vista dos participantes”. SPSAS é a sigla em inglês para Escola São Paulo de Ciência Avançada. Mais informações em: https://tinyurl.com/2mmmunmb.
Sobre a obra - O livro é composto por 10 capítulos que abordam diferentes problemas da região amazônica e trilham caminhos para análise, tomada de decisão e de ação. Os capítulos são organizados em três sessões: a primeira destinada à análise dos vetores de degradação e impactos de larga escala na Bacia Amazônica; a segunda sessão versa sobre a inclusão e diversidade cultural na Bacia Amazônica, tanto no nível local como no transnacional; e a terceira analisa os aspectos relacionados à governança local, participação e transdisciplinaridade.
“O texto foi produzido por um grupo de pesquisadores não indígenas num processo formativo no escopo da Escola São Paulo de Ciência Avançada Amazônia Sustentável com o objetivo de reconhecer e amplificar as vozes indígenas que já discutem esta questão. O nosso objetivo com este trabalho de síntese é de contribuir com um compilado da literatura para dar destaque ao tema junto à comunidade acadêmica e agências de fomento. Esperamos facilitar mudanças para que as estruturas de governança universitária possam ser mais justas e inclusivas”, disse Rafael Lembi, doutorando em Sustentabilidade pela Universidade Estadual de Michigan e coautor de capítulo.
Segundo dados da obra, ao longo dos últimos anos, a quantidade de indígenas no nível superior aumentou de 8.411 em 2009 para 72.086 em 2019. Ainda assim, o número de matriculados ainda é pequeno se comparado ao número de indígenas no Brasil. Tomando a experiência da Universidade Estadual do Amazonas como foco, os autores analisam uma série de desafios a serem enfrentados tais como melhorar o acesso e a permanência dos povos indígenas no ensino superior, evitar a discriminação e promovê-los a cargos representativos nas instituições universitárias.
Cotas e vestibular específicos para esse público e o oferecimento de cursos com enfoque em demandas indígenas (como a Licenciatura para Professores Indígenas e Licenciatura Intercultural Indígena) são as estratégias existentes hoje para o ingresso no ensino superior. Os Programas de Assistência Estudantil com auxílios socioeconômicos, transporte, alimentação e atendimento psicossocial, além de comissões e coletivos de apoio, auxiliam na permanência dos estudantes indígenas na universidade.
Os maiores desafios indicados pelos autores dizem respeito à inclusão dos saberes indígenas na universidade, como (1) o reconhecimento de que o português não é a primeira língua de muitos; (2) a participação na governança universitária e; (3) a presença e inclusão de professores e servidores indígenas na universidade.
Para Nicolás Cuvi, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador e um dos professores convidados, “as transições para uma sustentabilidade forte exigem pensar fora da caixa e com criatividade. Os artigos apresentados neste livro analisam e questionam tensões da região e apontam ações para orientar direções inclusivas, pacíficas e sustentáveis”.
Sobre a Escola São Paulo de Ciência Avançada Amazônia Sustentável e Inclusiva
A Escola faz parte das diversas ações da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) junto à Iniciativa Amazônia +10 , que reúne as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa de 25 Estados brasileiros, sob a coordenação do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para apoiar a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico da região.
No ano passado, reuniu pesquisadores e instituições de diversas regiões do mundo para pensar o desenvolvimento sustentável, a conservação e a inclusão social na região. Seu principal objetivo foi promover uma abordagem interdisciplinar para jovens pesquisadores envolvidos com a Amazônia, destacando a importância da ciência e, ao mesmo tempo, valorizando os conhecimentos indígenas e tradicionais na abordagem dos desafios históricos da região. Os resultados desse processo culminaram no livro Diálogos Amazônicos: contribuições para o debate da sustentabilidade e inclusão.
A publicação reforça a importância dos esforços de inclusão, a colaboração interdisciplinar e a integração de conhecimentos para enfrentar os complexos desafios da região amazônica. “Os trabalhos produzidos compilados e organizados nesta publicação são o resultado da combinação de experiências anteriores, conhecimentos e lições aprendidas - individual e coletivamente. Refletem, portanto, o aprendizado e amadurecimento dos participantes”, avalia Carlos Joly, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, um dos coordenadores da proposta.
A Escola contou com a participação de 88 jovens pesquisadores, todos envolvidos em pesquisas na Amazônia, sendo 60% brasileiros e 40% de países amazônicos como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Venezuela e extra-amazônicos como Guatemala, México, Estados Unidos, Itália e Países Baixos.