Publicado em: 12/11/2025 10:13:18
Universidade conduzirá ações do IARA-Saúde em Rondônia, com foco em servidores públicos, populações vulneráveis e monitoramento epidemiológico
A Universidade Federal de Rondônia (UNIR) participará de um dos mais importantes e abrangentes projetos científicos voltados à saúde e ao desenvolvimento sustentável na Amazônia. A instituição será responsável pela condução do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Investigação Ampla na Região Amazônica de Saúde (INCT IARA-Saúde) no estado de Rondônia, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e diversas instituições federais e estaduais de ensino e pesquisa da região. O projeto foi apresentado durante reunião realizada no gabineta da Reitoria, em outubro.
O novo centro de excelência científica foi aprovado na chamada pública nº 19/2024 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem como objetivo mapear o perfil epidemiológico das populações amazônicas, especialmente entre grupos mais vulneráveis como ribeirinhos, quilombolas, indígenas e extrativistas.
Com investimento estimado entre R$ 6 e 9 milhões em recursos públicos, o IARA-Saúde reunirá mais de 100 pesquisadores de 30 universidades federais, estaduais e institutos federais dos nove estados da Amazônia Legal, sob coordenação do professor Paulo Andrade Lotufo, da Faculdade de Medicina e do Hospital Universitário da USP.
A atuação da UNIR em Rondônia
Em Rondônia, o projeto será conduzido pela UNIR, sob a coordenação do professor Cristiano Alves, por meio do Grupo de Pesquisa Centro de Estudos Saúde e Vulnerabilidade da Amazônia, antes denominado Cesir. A equipe rondoniense contará com professores, técnicos e estudantes dos cursos da área da Saúde da UNIR, além da contribuição de pesquisadores da Fiocruz Rondônia.
Segundo a coordenação, os trabalhos devem começar em março de 2026, marcando o início de uma ampla investigação sobre as condições de Saúde de servidores públicos e comunidades amazônicas no estado.
Três eixos principais de pesquisa
As ações do IARA-Saúde em Rondônia serão estruturadas em três eixos complementares, que abrangem desde a coleta de dados epidemiológicos até a avaliação de políticas de Saúde.
Eixo 1 — Inquérito de Saúde em Servidores Públicos
O primeiro eixo prevê a aplicação de um questionário eletrônico junto a servidores da UNIR, IFRO, ICMBio e DSEI, com o objetivo de levantar informações sobre condições de Saúde física e mental, dieta, deficiências, morbidades e fatores de risco.
Além do levantamento digital, haverá uma avaliação presencial por amostragem, incluindo coleta de dados antropométricos, fisiológicos e bioquímicos em diferentes municípios de Rondônia. O modelo metodológico será semelhante ao utilizado no Estudo Longitudinal de Saúde do Brasil (ELSA-Brasil), desenvolvido pela USP e outras universidades federais.
Eixo 2 — Populações vulneráveis e carga de doenças
O segundo eixo vai quantificar e qualificar a carga de doenças crônicas e fatores de risco em comunidades tradicionais e grupos vulneráveis da Amazônia. Essa etapa busca compreender como condições de vida, alimentação, acesso à Saúde e aspectos ambientais influenciam o surgimento e a evolução de doenças como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e respiratórias.
As informações coletadas servirão de base para a formulação de estratégias de prevenção e políticas públicas adaptadas à realidade amazônica.
Eixo 3 — Linhas de cuidado e monitoramento nas rotas bioceânicas
Em paralelo às duas primeiras etapas, o IARA-Saúde propõe ainda o monitoramento epidemiológico de locais críticos em áreas estratégicas de fronteira e circulação internacional, que englobam as novas Rotas Bioceânicas na Amazônia, em municípios como Oiapoque (AC), Uiramutã (RR), Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO) e Assis Brasil (AC).
Em Rondônia, o destaque será o eixo Guajará-Mirim (Brasil) – Guayaramerín (Bolívia), onde haverá cooperação com os serviços de vigilância epidemiológica municipais. O objetivo é acompanhar a circulação de pessoas, mercadorias e vetores de doenças entre diferentes biomas, antecipando riscos de surtos e doenças emergentes na área fronteiriça.
O estudo também pretende avaliar as “linhas de cuidado” existentes nas unidades básicas de saúde da região, identificando obstáculos e oportunidades no acesso, diagnóstico e encaminhamento de doenças doenças crônicas, como as cardiovasculares, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o diabetes e os cânceres de maior prevalência.
A partir dos resultados, o IARA-Saúde pretende colaborar com gestores e profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) para aperfeiçoar práticas clínicas, protocolos de atendimento e estratégias de prevenção, além de fortalecer a atenção primária, especialmente nas comunidades mais isoladas.
Essa abordagem integrada, que une atenção primária, vigilância epidemiológica e cooperação internacional, pretende criar um modelo inovador de observação e resposta em Saúde pública na Amazônia, conectando o conhecimento científico produzido pelo IARA-Saúde às necessidades reais das populações amazônicas.
Formação e inclusão científica
O projeto também tem forte ênfase na formação de recursos humanos e na inclusão social. Estão previstas bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, com cotas específicas para estudantes indígenas, quilombolas e ribeirinhos.
Todos os participantes da pesquisa receberão treinamento em ética, epidemiologia, antropologia, sociologia, políticas públicas e meio ambiente, promovendo uma formação interdisciplinar e comprometida com o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Cooperação nacional e internacional
O IARA-Saúde conta com o apoio de diversos ministérios e institutos federais, entre eles o Ministério da Saúde (MS), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), além da Fiocruz, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), do Instituto Evandro Chagas, do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
A internacionalização do projeto incluirá parcerias com universidades da Colômbia, Peru, Bolívia e França — esta última pela proximidade com a Guiana Francesa — e a possibilidade de captação de recursos junto a agências internacionais de fomento científico.
Ciência em rede para a Saúde amazônica
De acordo com o coordenador nacional, professor Paulo Andrade Lotufo, o sucesso do IARA-Saúde “se deve à pronta mobilização dos pesquisadores da região amazônica e à articulação entre universidades, órgãos públicos e comunidades locais”.
Com sua participação no projeto, a UNIR consolida o papel de Rondônia como um polo estratégico de pesquisa em saúde pública e epidemiologia na Amazônia, contribuindo diretamente para o conhecimento e a melhoria das condições de vida das populações amazônicas.
*Com informações do INCT IARA-Saúde e da USP