Publicado em: 17/06/2022 15:03:14
A Amazônia está sob ataque e a Universidade na Amazônia não pode e não vai se calar diante disso. O discurso mais evidente sobre a região trata de um espaço natural exuberante, de grande biodiversidade e riqueza natural. São fatos, mas não os únicos. A Amazônia é também espaço de grande riqueza e diversidade cultural, habitada por populações milenares que desde sempre tem sido postas em risco pelos mais diferentes e poderosos fatores, todos ligados à exploração desenfreada, que leva ao chão não somente a floresta, mas também aqueles que se levantam em defesa da Amazônia e dos seus povos.
Nos últimos dias o Brasil e o mundo acompanharam com apreensão e indignação as buscas por Dom Phillips e Bruno Pereira. Ao final de onze dias veio a notícia de que seus corpos, vitimados pela barbárie, foram encontrados. O jornalista e o indigenista foram assassinados em um dos períodos mais tenebrosos para a liberdade de imprensa e para os povos da floresta. Suas mortes no Vale do rio Javari é parte dos ataques que a Amazônia sofre há séculos e, infelizmente, não parecem ser o seu desfecho.
A Universidade Federal de Rondônia, uma instituição amazônida de pesquisa e de ensino, se coloca ao lado daqueles que defendem os povos tradicionais, da natureza, da cultura, e da preservação dos modos de vida das populações que têm sido marginalizadas em prol de modelos de desenvolvimento desgastados, e que subvertem a necessária relação de equilíbrio e convivência com a natureza e com a floresta.
Na Amazônia os dados mostram um cenário de ataque à natureza e àqueles que a defendem. Em fevereiro de 2022 um total de 11 das cidades que mais desmatam estão localizadas na Amazônia; das 10 cidades que mais emitem gases de efeito estufa, oito estão na Amazônia, à frente de megalópoles industrializadas como de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2021 os conflitos no campo cresceram 80% na Amazônia, e o Estado de Rondônia detém o recorde nacional com 11 mortes violentas. Do total de 350 conflitos pela água no Brasil, 19% deles estão na Amazônia.
Aquelas e aqueles que lutam pelas causas ambientais e indígenas têm sucumbido na Amazônia, e há crescente insegurança para quem atua nas áreas de reservas ambientais, extrativistas, indígenas e de preservação permanente. As reservas são hoje territórios de conflito, com grupos invasores agindo sob o manto da ilegalidade e da imoralidade. Proteger estes territórios é perigoso, pois oito em cada 10 defensores dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente sofreram violência na Amazônia, o que coloca o Brasil entre os três países com maior índice de assassinatos de ativistas.
O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira é parte da tragédia ambiental e social que tem lugar na Amazônia, e conhecer, discutir e denunciar esta tragédia é parte do papel da Universidade, para que se possa avançar rumo à sua superação. Bruno e Dom são parte desta luta que se opõe à tragédia materializada no absurdo dos assassinatos, das expulsões, e no desalento das populações mais vulneráveis.
Bruno e o Dom estão presentes em todos e em todas as amazônidas. Se juntaram a tantos outros que seguem presentes nos cantos dos pássaros, na beleza dos peixes, entre tracajás e as sucuris. A UNIR, Universidade Amazônida, é parte do conjunto de vozes que são amplificadas pelos exemplos daqueles que foram derrubados. São vozes que não podem ser caladas. São legados que dão força para vencer a ganância, a violência, e a expulsão, apoiados no conhecimento gerado desde os barrancos e caminhos de mata que devemos todos percorrer para conhecer o tamanho e a força da gente amazônida.